Há lugares que não se explicam — respiram-se. O
Alentejo, com os seus campos ondulados sob o sol morno, sussurra silêncios que
dançam com o tempo. As Beiras, com as suas montanhas e ribeiros, contam
histórias em cada pedra, em cada sombra que repousa entre os vales. Ambas são
geografias da alma, onde a terra molda o olhar e o olhar devolve, em arte,
aquilo que o coração colhe.
Nesses lugares, o tempo corre devagar, guiado pelo
compasso das estações e pelas mãos calejadas que sabem o peso da enxada, o
ritmo do tear e o segredo das ervas. O povo guarda nas vozes o eco de cantigas
antigas, nas festas o brilho da comunhão, e nos gestos o saber transmitido de
geração em geração — saber de fazer, de sentir, de resistir.
Este projeto é um encontro entre mundos: o mundo
visível das paisagens e o mundo invisível das emoções. Aqui, os alunos de Artes
Visuais transformarão as texturas da cal e do granito, os tons do sobreiro e do
castanheiro, os cantos do vento e os ecos das tradições em composições que são
janelas para dentro e para fora — para o que somos e para o que nos cerca.
Entre o branco luminoso do Alentejo e o verde profundo
das Beiras, há um fio invisível que une a matéria e o espírito, a memória e o
presente. Esta viagem será, assim, um convite à contemplação: que cada traço
nos leve a caminhar devagar, como quem atravessa um campo em flor ou sobe um
carreiro de serra, escutando o silêncio antigo das paisagens que nos formam. Neste percurso,
a arte torna-se ponte — entre o território e a identidade, entre o olhar jovem
e o legado ancestral. Ao desenhar, pintar ou esculpir, os alunos não apenas
representam o que veem: reinterpretam, recriam, ressignificam. Cada obra será
uma tentativa de capturar o intangível — o cheiro da terra molhada, o som de
uma avó a fiar memórias, o calor de uma tarde que parece suspensa no tempo.
Porque
criar, aqui, é também um gesto de escuta e de pertença, um modo de dizer que
estamos atentos ao que nos rodeia e ao que nos habita.
Será um belo encontro entre Arte e Território.