sábado, 28 de janeiro de 2017

Corações Enamorados

Uma "Viagem" relâmpago... uma viagem ao sabor do sentimento.
Vamos surpreender no dia de São Valentim!

LI UM DIA, NÃO SEI ONDE
Li um dia, não sei onde,
Que em todos os namorados
Uns amam muito, e os outros
Contentam-se em ser amados.

Fico a cismar pensativa
Neste mistério encantado...
Diga pra mim: de nós dois
Quem ama e quem é amado?...

Florbela Espanca

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Desafio aos Viajantes: Cordas com Música

O MAESTRO SACODE A BATUTA

O maestro sacode a batuta,
E lânguida e triste a música rompe ... 
Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal
Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo ... 

Prossegue a música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo... 
(...)

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" 



segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Lisboa, menina e moça dos poetas (2)

Digo:
“Lisboa”
Quando atravesso – vinda do sul – o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do seu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão noturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas –
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
– Digo para ver

Sophia de Mello Breyner Andresen (1977), in Obra Poética

Diário de Viagem

Corações de Ouro dos nossos viajantes... O desafio ainda está a começar!





domingo, 22 de janeiro de 2017

Lisboa (en)cantada


Lisboa, menina e moça dos poetas (1)

Lisboa é conhecida por ser uma cidade de poetas. Aqui, nasceram e morreram muitos dos poetas que agora dão nome a praças, ruas e ruelas e que fazem das suas antigas casas e hábitos citadinos passagem e estudo obrigatórios para os amantes de poesia.
O que têm em comum Fernando Pessoa, Alexandre O’Neill, Luiz Vaz de Camões, Sophia de Mello Breyner, Ary dos Santos, Mário de Sá Carneiro (etc.), para além de serem os maiores poetas da língua portuguesa? Lisboa. Todos viveram a maior parte de suas vidas nesta cidade...

LISBOA
Alguém diz com lentidão:
“Lisboa, sabes…”
Eu sei. É uma rapariga
descalça e leve,
um vento súbito e claro
nos cabelos,
algumas rugas finas
a espreitar-lhe os olhos,
a solidão aberta
nos lábios e nos dedos,
descendo degraus
e degraus e degraus até ao rio.Eu sei. E tu, sabias?

Eugénio de Andrade, iAté Amanhã, 1956

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Há Sardinha Linda!

Coloridas, saltitantes e para todos os gostos... 
Há muitas mais, mas ficam guardadas para maio!













Ao ritmo da Viagem


Desafios aos Viajantes

.O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
(…)
Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Diário de Viagem

O coração de cada um vai juntar-se num grande grupo, na viagem de maio, e formar uma instalação artística promissora! Corações em "viagem"...







sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Santos "de verão"




A 13 de junho, celebra-se o Dia de Santo António. Mais adiante, o dia de São João (24 de junho), depois o de São Pedro (29 de junho) – e mais se poderiam acrescentar até ao Dia de Todos-os-Santos. Cada dia do calendário tem um ou mais santos e a sua celebração – independentemente de se acreditar ou não, e em que grau, nos dogmas, preceitos e enigmas da santidade – é uma boa oportunidade para se festejar. Nas vilas e aldeias portuguesas (ou nos bairros das grandes cidades), os santos “de verão” constituem um ótimo pretexto para organizar festas e procissões, bailaricos e vendas, comer farturas, pão com chouriço e sardinha assada… São festas com grandes tradições e duram dias, e até mesmo o mês de Junho já está como consagrado, amiúde, "às festas da cidade", tendo sempre o santo como padroeiro e mentor.

(adaptado do artigo do prof. Mário Cordeiro para o jornal i - junho 2016)


Noite de S. João para Além do Muro do Meu Quintal

Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.

“Poemas Inconjuntos” - Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa


terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Desafios aos Viajantes


Viagem com Alma: Santos e Populares

As Festas de Lisboa enchem de animação os recantos mais típicos da cidade e trazem à rua milhares de pessoas. 
Santo António, muito venerado em Lisboa e tratado como um verdadeiro padroeiro da cidade, dá o mote para as festas que atingem o seu ponto alto na noite de 12 de junho, com o desfile das marchas populares na Avenida da Liberdade. Na tarde do dia 13, a procissão em honra deste santo popular, que tem fama de casamenteiro, percorre as ruas que rodeiam a Sé e dá o cunho religioso às festas. As noites são animadas pelos arraiais nos bairros típicos de Lisboa, do Castelo à Mouraria, Graça, Alfama, Ajuda e Bairro Alto, com muita música e dança ao ritmo das canções populares. Enfeitadas com grinaldas e globos coloridos, as ruas são invadidas pelo cheiro da sardinha assada e pelos aromas dos manjericos acompanhados de um cravo de papel e de uma quadra alusiva a Santo António.

Viajaremos por este ambiente de festa e tradições... Venham connosco porque gostamos da vossa companhia!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Para Além da Curva da Estrada


Para além da curva da estrada 
Talvez haja um poço, e talvez um castelo, 
E talvez apenas a continuação da estrada. 
Não sei nem pergunto. 
Enquanto vou na estrada antes da curva 
Só olho para a estrada antes da curva, 
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva. 
De nada me serviria estar olhando para outro lado 
E para aquilo que não vejo. 
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. 
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.


Alberto Caeiro. heterónimo de Fernando Pessoa, in "Poemas Inconjuntos"