Digo:
“Lisboa”
“Lisboa”
Quando
atravesso – vinda do sul – o rio
E a cidade a
que chego abre-se como se do seu nome nascesse
Abre-se e
ergue-se em sua extensão noturna
Em seu longo
luzir de azul e rio
Em seu corpo
amontoado de colinas –
Vejo-a
melhor porque a digo
Tudo se
mostra melhor porque digo
Tudo mostra
melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com
seu nome de ser e de não-ser
Com seus
meandros de espanto insónia e lata
E seu
secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu
conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o
largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa
oscilando como uma grande barca
Lisboa
cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da
cidade
– Digo para
ver
Sophia de Mello Breyner Andresen (1977), in Obra
Poética
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