terça-feira, 8 de agosto de 2017

Tarde no Mar


A tarde é de oiro rútilo: esbraseia
O horizonte: um cacto purpurino. 
E a vaga esbelta que palpita e ondeia, 
Com uma frágil graça de menino, 

Poisa o manto de arminho na areia
E lá vai, e lá segue ao seu destino! 
E o sol, nas casas brancas que incendeia.
Desenha mãos sangrentas de assassino! 

Que linda tarde aberta sobre o mar!
Vai deitando do céu molhos de rosas
Que Apolo se entretém a desfolhar... 

E, sobre mim, em gestos palpitantes,
As tuas mãos morenas, milagrosas,
São as asas do sol, agonizantes... 



Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"



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