“A viagem não acaba nunca.
Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa...
O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
O viajante volta já.”
José Saramago (1981) [adaptado]
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024
"VENEZA: MAGIA FLUTUANTE"
Lá, em Veneza e cá, na ESPJAL... Cor, Animação e Arte!
Veneza... Cidade flutuante, cidade Mágica! Os seus canais, as suas misteriosas e obscuras vielas, atraem-nos rumo ao irresistível desconhecido... A sua exótica beleza reside no facto de estar construída sobre bancos de areia desde a Idade Média. Como contrariedade cíclica é afetada por inundações recorrentes que têm aumentado de volume com o degelo do "aquecimento global", decorrente das alterações climáticas.
Não obstante, o ritmo Veneziano está, cadenciado pelas travessias dos "vaporettos", dos barcos e das gôndolas que percorrem o grande canal e as suas ramificações, os pequenos canais, onde o ritmo de vida não é muito diferente do século XVIII, com exceção feita aos inúmeros turistas que ocorrem à cidade. Contudo, nos locais mais interiores da complexa e labiríntica rede urbanística, andando a pé ou de gôndola, pode sentir-se o ritmo tranquilo do romantismo que pulsa por toda a urbe. O romantismo é potenciado pelos monumentos e momentos que nos atropelam em muitas esquinas da cidade, com edifícios antigos de rara beleza e com músicos espontâneos que surgem na "Piazza di Roma" ou a bordo de alguma gôndola.
Os transeuntes revelam uma simpatia "sui generis" para com os casais apaixonados, o que não se sente com facilidade em outras paragens turísticas, porque o tempo está mais ajustado aos batimentos sentimentais do coração. Nas suas ruelas castiças pode ouvir-se o chilrear dos pássaros, o movimento das águas, o sussurrar do vento nas árvores.
Veneza
teve historicamente o seu auge no tempo dos Doges, mormente na Idade Média, quando
foi capital da “Sereníssima República de Veneza”, conseguindo expandir um vasto
império comercial sobre o Mediterrâneo oriental e controlando as rotas do
Levante que traziam as riquezas do oriente, antes dos Descobrimentos Marítimos
dos Portugueses terem inaugurado a rota do Cabo. Símbolo desta abertura
cosmopolita ao oriente foi a famosa viagem, de reconhecimento da Rota da Seda,
do Veneziano Marco Polo.
No
decorrer desta dinâmica histórica, a cidade foi perdendo o seu estratégico
poder de charneira civilizacional entre o Ocidente e o Oriente, que se plasma
em muitos pormenores da arquitetura religiosa veneziana marcados pelo
bizantinismo decorativo. Esta degenerescência da antiga opulência
aristocrática, dos múltiplos palácios que se espraiam ao longo do grande canal,
levou a que Napoleão Bonaparte a conquistasse no fim do século XVIII e no
terceiro quartel do século XIX tenha sido integrada no reino de Itália.
O patrono da cidade é São Marcos, pois as suas
relíquias trazidas de Alexandria permitiram edificar a grandiosa Basílica que
constitui um dos “ex-libris” da “citá”. O “Palazzo Ducale”, residência oficial
dos Doges, apresenta em muitas das suas pinturas referências ao santo e uma
monumental pintura renascentista de Tintoretto, ao mesmo tempo que o chão
estremece ao ritmo dos passos do visitante. É, pois, um monumento recheado de
obras de arte que embasbacavam os diplomatas estrangeiros. Deste modo,
percebe-se, em função de todo este manancial de bens culturais que pululam na
cidade, a sua classificação de Património Mundial da Humanidade.
Na atualidade, Veneza é famosa pelo seu Carnaval
aristocrático, com as suas máscaras luxuosas feitas por artífices
especializados e pelo seu Festival de Cinema. A Bienal das Artes é, também, um
certame que tem dado projeção mediática à cidade, porquanto os motivos
artísticos e os cenários estéticos, de inigualável beleza, interpelam os
visitantes a cada recanto da cidade. Uma outra marca forte da urbe é o conjunto
de sinais de uma imensa religiosidade, com as suas múltiplas igrejas e nichos
exteriores de santos, que comunica serenamente com os passeantes que sentem ter
todo o tempo do mundo e se escapam da fúria competitiva, da globalização
desregulada, centrada no fazer e no ter do produtivismo imoderado.
Finalmente, o carnaval de Veneza! Diferente de qualquer outro carnaval, em
estilo e espírito, surgiu a partir da tradição do século XVII, onde a nobreza
se disfarçava para sair e misturar-se com o povo. As máscaras são o elemento
mais importante deste carnaval, assim como a euforia num momento de abandono da própria identidade, pois o anonimato permitia aos venezianos serem quem queriam ser pelo menos durante um período do ano.
Os anos de 1700 foram os anos ouro do carnaval veneziano. Naquele período, viveram na cidade o escritor de comédia, Carlo Goldoni e o famoso Giacomo Casanova, escritor, poeta e misterioso aventureiro. Os palácios nobres eram o local onde aconteciam os luxuosos bailes. Nos seus jardins, os mascarados escondiam-se num jogo de sedução com as damas. Ninguém sabia com quem estava interagindo, pois estavam todos disfarçados com máscaras.
Participar no Carnaval de Veneza é uma emoção única. Vale a pena enfrentar o frio do inverno e a multidão para ver de perto uma tradição secular que encanta o mundo inteiro ainda hoje. O carnaval de Veneza será eterno e vivido com tanta intensidade que se petrificará e nenhuma força jamais o poderá resgatar.
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