Há lugares que não se explicam — respiram-se. O Alentejo, com os seus campos ondulados sob o sol quente, sussurra silêncios que dançam com o tempo. As Beiras, com as suas montanhas e ribeiros, contam histórias em cada pedra, em cada sombra que repousa entre os vales. Ambas são geografias da alma, onde a terra molda o olhar e o olhar devolve, em arte, aquilo que o coração colhe. Nesses lugares, o tempo corre devagar, guiado pelo compasso das estações e pelas mãos calejadas que sabem o peso da enxada, o ritmo do tear e o segredo das ervas. O povo guarda nas vozes o eco de cantigas antigas, nas festas o brilho da comunhão, e nos gestos o saber transmitido de geração em geração — saber fazer, sentir, resistir.
Neste encontro entre mundos: o mundo visível das paisagens e o mundo invisível das emoções, transformam-se as texturas da cal e do granito, os tons do sobreiro e do castanheiro, os cantos do vento e os ecos das tradições em composições que são janelas para dentro e para fora — para o que somos e para o que nos cerca. Entre o branco luminoso do Alentejo e o verde profundo das Beiras, há um fio invisível que une a matéria e o espírito, a memória e o presente.
Há casas que não se impõem à paisagem, mas que a escutam. Que nascem dela, como se fossem feitas da mesma matéria dos montes e dos vales. Mais a Norte, por entre os socalcos verdejantes e os caminhos de pedra, surgem aldeias feitas de xisto e mistério, ou onde o casario se acomoda à encosta como uma oração. O granito, abundante e sólido, ergue muros espessos e telhados de ardósia. São construções que resistem ao tempo e ao clima, moldadas pelo saber da montanha. As janelas pequenas guardam o calor, e cada porta em madeira escura é a entrada para uma história — de trabalho, de família, de silêncio. É uma arquitetura que não foi desenhada, mas aprendida — como se cada castanheiro ao redor tivesse soprado conselhos à mão do construtor.
Mais a Sul, entre o calor das planícies alentejanas,
surgem casas de cal branca e contornos suaves. Em aldeias, onde a cortiça é
orgulho e sustento, a arquitetura popular respira com o sol. O branco das
paredes, renovado ano após ano, reflete o calor e traduz uma estética de
simplicidade luminosa. A taipa,
mistura humilde de terra, cal e palha, revela um saber ancestral de
sustentabilidade e adaptação. As chaminés elevam-se como coroas, afirmando
identidade — um contraponto à nobreza silenciosa do sobreiro que vigia os
campos.
E agora, no espaço da exposição, erguem-se novas paredes — feitas de desenho, de luz e de intenção. Cada traço é uma ombreira, cada cor uma porta, cada ideia um lar. Porque criar é também habitar: o espaço, o tempo e o que somos. Esta exposição é, assim, um convite à contemplação: cada traço leva-nos a caminhar devagar, como quem atravessa um campo em flor ou sobe um carreiro da serra, escutando o silêncio antigo das paisagens que nos formam.
É um belo encontro entre Arte e Território.











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